terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O tempo é o combustível do que sou feita, e ele declarou minha setença. Acusada. Tudo fora do eixo, imutável caos, pessoas lacônicas e com visível solidão em suas almas. Então seguro-a porque é tudo que me resta antes dos ponteiros anúnciarem a hora. Eu digo que vai passar, fumo um cigarro atrás do outro e aceito morrer por inteira até o sol nascer. Aquele azul do céu, o falso sentimento de esperança quando chega essa época do ano e tudo isso é estranhamente confortável; então enquanto arranco as folhas do calendário aceito florir novamente.



Deitei a cabeça no travesseiro e gargalhei. Sem motivo aparente, apenas por um estranho instinto desconhecido. Dei risada por minutos intermináveis, então chorei. Chorei em silêncio, um choro manso que escorrega pelo canto dos olhos pelo lamentável elo arruinado, pelo sentimento atrofiado. Então dormi.
Era seu aniversário e pensei em desejar meus pêsames, mas dei um sorriso torto e dei-lhe os parabéns. Me doí inteira de ver o tempo te mastigar e engolir, mas sorri. Sorri porque ouvi o som dos guizos e então percebi que nunca vou morrer ; não vou morrer porque eu não existo e se não há vida, não há morte. No mesmo instante deixei de ser tua falta, porque falta é ausência e ausência é vazio, vazio é nada. Não posso sentir falta de algo que não existe. Então parei de temer a morte, temer a morte constante minha e de tudo que havia vida, parei de temer o tempo e sua passagem.

Eu sou de outro planeta...


Eu gosto de cogumelos.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Escrevi, apaguei. Rasguei. Pensei e desisti de escrever. Vou escrever. Talvez um dia você pegue essa carta e lembre de mim, de todo esse furação que o tempo teima em levar. Talvez um dia lembre de nós. Me desculpe pela ausência física e por todo futuro jogado pelo ralo, mas protegi teu nome por amor, eu tentei de todas as formas manter um pedaço teu aqui e em troca pedi o mesmo : Não me deixe morrer nunca em ti.
Entrego por meio desta a melhor parte de mim, a coisa mais bonita que um dia poderei dar á alguém : Meu coração de plástico. Com todos meus encontros e desencontros, com todas lacunas vazias do meu ser.
Amo você como Joana D'arc amava tua pátria e foi queimada por ser uma péssima funcionária pública, eu te amei como uma tragédia grega e lógico : Como um coração deve amar.
Eu não sei rezar, mas peço em nome de Deus, dos deuses você comigo sempre. Tenho memória péssima e vou esquecendo sem querer, então quando não passarmos de lembranças uma pra outra, terá essa carta pra ler e saber que é real. Que foi real.
Não tenho mais nada á dizer, pelo menos não qualquer palavra que me faça sentir curada ou alíviada, pois essas coisas só se curam com o amor.
Te dei todas minhas angústicas, minhas lágrimas e pedaçoes caidos, mas além de tudo : Meu sorriso, otimismo, esperança.

Deixo á Deus-dará se for a vontade do mundo (Ou a nossa) que a gente se encontre.
Como é mesmo que vovó dizia ? '' cantarás com alívio ao ouvir o som da trombeta anúnciando o fim de mais uma temporada. '' Oh Madalena, não deixe esses sonhadores desencorajados tirarem tua fé menina, não toma mais deste cálice não, aguenta mais um pouco, quase consigo ouvir o som da trombeta, o inverno tá indo embora, há um mundo inteiro pra descobir, não toma deste cálice não, larga os Blues amargos e essa morfina menina.

Eu ouço a trombeta tocando e anúnciando o fim.

Maldita flor da trombeta...


Escrever sobre você seria o mesmo que escrever sobre mim, mas não me conheço, então como poderei fazer ? Ou talvez me conheço tão bem que tenho medo de definir, tornar algo monótono que acabo preferindo esconder cada pedaço do meu ser. Escrever sobre você seria o mesmo que escrever sobre amor ; do qual já ouvi muito falar e ouso sentir, mas nada sei. Amor não é eterno ? se acabou não era amor.
Não coloco data pois será passado, acordará um dia e me verá como aquele vento que bate a janela toda manhã pra lembrar que o tempo está passando. O tempo passa e devora. Escrevo sem data, para ser eterno.
Dizem que quando você tenta se encontrar, acaba correndo o risco de se perder pra sempre, e na procura de você me perdi sem previsão de volta.
Tu és um Ás, a carta do coração, e muitos morrem disso, saca ? ataque cardíaco, um conjunto de mágoas e dores mal resolvidas ; mas queria que tu soubesse que esse lance é foda, mas corações são recicláveis, certo ? Quero que tu se encontre tanto quanto eu, pois se for pra ser, esses olhos verdes vão voltar.
Muitas coisas queria lhe falar, mas agora me contento com : Te-cuide-por-mim, e um vale silêncio que vale por todas essas palavras sem sentido.


ps : Lembre de mim, lembre de nós, e espero que continue por sua busca eterna por amor e libertação.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


Eu queria agradecer aos deuses por este presente, por me salvar e manter minha sanidade com tuas mentiras sinceras, e garota, você sabe, dezembro tá chegando ao fim e janeiro está ai estampado na botique do teu coração : Um ano inteiro de amor por ai e se eu me afogar não desisto não, eu sei remar !
remar,re-mar,amar. Lembra ? Eu remo se você remar comigo. pra onde ? '' princesa do sol encontra caminho para o mar. '' Então nós nos afogaremos em cafés amargos e blues, então você deitará sua cabeça em meu colo e eu direi '' dorme menina, porque sono salva ou adia.'' Mas adia de que ? Adia da vida menina, te vejo como Caio via Zé, uma pureza linda que ninguém entendia, mas isso já é outra história.
Enquanto toca qualquer-música-que-me-faça-querer-viver e você diga eu-tô-contigo-garota as coisas irão ficar bem.


Pra Fabilinda, com amor, carinho e sentimentos despenteados.

domingo, 19 de dezembro de 2010

— Dizem que se o visitante abre ele mesmo a porta, não volta nunca mais.
Ele saiu. O corredor de mosaicos gelados.
— Volte quando quiser — ela sorriu.
Ele deu alguns passos em direção ao elevador. Ela continuava na porta. Antes de entrar no elevador ainda se voltou para encará-la mais uma vez. E não conseguiu conter-se.
— Não conheço nenhum Paulo — disse.
— Eu também não — ela sorriu. Ela sorria sempre. Ele apertou o botão do Térreo. Conseguiu segurar a porta um momento antes que se fechasse, para gritar:
— Eu não me chamo João.
— Eu também não me chamo Maria — julgou ouvir.
Mas não tinha certeza. Difícil separar a voz sorridente do barulho de ferros do elevador. Rangendo, puxando para baixo.
Na porta do edifício, tornou a apertar o botão do porteiro eletrônico:
— Escuta — perguntou —, você não tem um rádio-despertador?
— Claro que sim. Na minha cabeeeira.
O riso chegou distorcido através dos pequenos orifícios do aparelho.
— E tenho também uma garrafa de vinho. Mas agora é muito tarde.

Pedras de Calcuta
Agora o jeito é me afogar em garrafas de vodka e doses de melancolia, misturado com comprimidos extras de remédios para dormir (como diria Cainho '' dorme menina, sono salva ou adia'') com poemas do qual não compreendo e meu querido ''Cainho'' de baixo do braço; no rádio tocando qualquer Blues que me faça pedir mais café ou aumentar o som pra dançar sozinha, e quem sabe, ter coragem para rasgar, quebrar, me revoltar (tenho todo o direito, sim senhor)e apodrecer em morrer em paz. Não gosto de dividir minha solidão, cada solidão trás o mais frágil ser atona e mostra cada um assim : Nu, nada, sem mentiras ou qualquer coisa que salve. E por fim mentindo todo dia que não-ligo-foda-se e tudo-bem-a-vida-é-assim-mesmo até eu realmente acreditar.
- Você vê as pessoas.
- Eu vejo você.
- E o que vê?
- Você não pularia.
Estou botando o dedo na garganta para vomitar um pouco disso, sabe? só queria que você tivesse me pedido pra ficar, me ligasse para que ficássemos em silêncio, ou qualquer conversa banal no fim da tarde, algo laconico e superficial. Mas eu queria que você tivesse falado. Não importa, qualquer coisa cliche que me convencesse que valeu a pena. Fica-sinto-sua-falta-sem-você-não-sei-viver, mas você disse tanto-faz-o-que-for-melhor-pra-você. Oras, mas vejam só, não quero ser injusta, careta, do tipo 'amor conservador dos anos 60' mas porra, minto ! Queria você pra mim,com todos seus defeitos, e jeito estranho de falar de amor. Meu jeito estranho de falar de amor. Agora tô meia perdida, sentindo algo estranho no meio do peito (seria o coração ?) queria pedir qualquer tipo de socorro S.O.S, só não-me-deixe-morrendo-aqui; Mas o que você faria ? Aos poucos vou vendo outra em meu lugar, alguém pra te chamar de meu amor, que faça você feliz. Eu não te faço mais feliz,não é mesmo ? Nos tornamos aquilo que tanto temia : Aqueles casais na mesa do restaurante, cujo quais negam a olhar entre os olhos. Mas tudo bem (minto de novo)quantos anos você tem ? Tá tão sozinha, viciada nessa solidão e precisando de qualquer pessoa que ocupe um lugar bem grande que não se importa com a ilusão.
Me entende, eu não quis, eu não quero, eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua mão, entende, por favor. Eu tenho medo, merda!Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fos...se e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto.

Caio f. de Abreu.